quarta-feira, 27 de maio de 2009

Adrenoleucodistrofia

Definição:

Distúrbio hereditário do metabolismo dos ácidos graxos que afeta as glândulas adrenais, o sistema nervoso e os testículos.

Causas, incidência e fatores de risco:

Na ALD, a atividade anormal dos peroxissomos leva a um acúmulo excessivo de ácidos graxos de cadeia muito longa (AGCML) constituídos de 24 ou 26 átomos de carbono em tecidos corporais, sobretudo no cérebro e nas grândulas adrenais. A conseqüência desse acúmulo é a destruição da bainha de mielina, o revestimento dos axônios das células nervosas, afetando, assim, a transmissão de impulsos nervosos.

Na forma infantil, os primeiros sintomas abrangem hiperatividade, dificuldade na escola, dificuldade para compreender a comunicação verbal, deterioração da escrita, estrabismo possíveis convulsões. À medida que a doença avança aparecem novos sinais de danos na substância branca do cérebro que incluem alterações no tônus muscular, rigidez e deformidades por contratura, dificuldade de deglutição e coma.

Outro componente importante presente em todas as formas de adrenoleucodistrofia é o desenvolvimento bastante significativo de uma função adrenal deficiente (semelhante à doença de Addison), que pode ser tratada de forma adequada com corticosteróides.
A incidência de ALD é de cerca de 1 para cada 10.000 indivíduos. As possibilidades de descendência a partir de uma mulher portadora da ALD são:

25% de chances de nascer um filho normal;
25% de chances de nascer um filho afetado;
25% de chances de nascer uma filha normal;
25% de chances de nascer uma filha portadora heterozigota.

Sintomas:

Hiperatividade;
Diminuição do desempenho escolar;
Diminuição da compreensão da comunicação verbal;
Estrabismo;
Dificuldade de deglutição;
Convulsões;
Sintomas de insuficiência adrenal;
Alterações no tônus muscular, especialmente espasmos musculares.
Paralisia;
Perda da audição;
Deficiência visual ou cegueira;
Estado vegetativo;
Deterioração da escrita;
Deterioração do controle motor fino.

Clássica ou infantil

Forma mais grave da ALD, desenvolvida por cerca de 35% dos portadores da doença. Manifesta-se no período de 4 a 10 anos de idade.
· Período de sobrevida: 10 anos.
· Sintomas: Problemas de percepção; disfunção adrenal; perda da memória, da visão, da audição, da fala; deficiência de movimentos de marcha; demência grave.
Adulta (AMN)

Forma mais leve que a clássica. Manifesta-se no início da adolescência ou no início da idade adulta.
· Período de sobrevida: Décadas.
· Sintomas: Dificuldade de ambulação; disfunção adrenal; impotência; incontinência urinária; deterioração neurológica.

ALD em mulheres

Embora a doença se manifeste principalmente em homens, mulheres portadoras também podem desenvolver uma forma leve da ALD, com sintomas como ataxia e fraqueza ou paralisação dos membros inferiores.

Tratamento

O tratamento da insuficiência das glândulas adrenais é bastante eficaz. Esta doença será fatal se não for tratada com administração de mineralocorticóides e de glicocorticóides para compensar a ausência destas substâncias. Os espasmos musculares são tratados com medicamentos anticonvulsivantes. No entanto, o comprometimento do sistema nervoso central, a principal causa de deterioração física e mental, é o principal desafio para os pesquisadores, por ser irreversível.

A terapia definitiva para esta doença no momento não existe. Alguns estudos experimentais estão sendo realizados obtendo algum êxito com o transplante de medula óssea e uma dieta baseada no "azeite ou óleo de Lorenzo". O óleo de Lorenzo é uma combinação de ácido oléico e de ácido erúcico. Este azeite parece atuar reduzindo a velocidade da síntese endógena dos ácidos graxos em quatro semanas de tratamento, normalizando os índices no plasma e lentificando a deterioração neurológica, porém, pequena quantidade do ácido erúcico presente no "Óleo de Lorenzo" ultrapassa a barreira hematoencefálica. É de importância fundamental seguir uma dieta com restrição de ácidos graxos saturados. Novas terapias com levostatina e 4-fenilbutirato foram propostas recentemente e estudos experimentais estão sendo realizados para determinar até que grau estes medicamentos são benéficos. A terapia gênica está em estudo em cobaias.

Lorenzo Michael Murphy Odone

Lorenzo Michael Murphy Odone era um menino normal até os quatro anos de idade, quando começou a apresentar sinais de degeneração do sistema nervoso, como perda de audição, visão, fala, coordenação motora, deglutição, controle esfincteriano, dentre outras coisas.

Seus pais Augusto (um economista do Banco Mundial) e Michaela (uma professora) passaram a estudar a doença e suas bases bioquímicas, e acabaram postulando a fisiopatologia da doença e desenvolvendo uma terapêutica que faz com que os sintomas da doença não progridam. Uma mistura de ácidos oléico e erúcico faz com que a biossíntese desses ácidos graxos seja interrompida, estacionando o processo de desmielinização. Essa mistura de óleos foi chamada de Óleo de Lorenzo, em homenagem ao menino portador da doença ALD, e hoje é considerado um dos mais eficientes meios de tratamento para a mesma.

Augusto recebeu um diploma honorário de medicina por suas contribuições na área da pesquisa. Juntamente com Michaela, fundaram "The Myelin Project", uma fundação sem fins lucrativos que incentiva a pesquisa para adrenoleucodistrofia. Michaela faleceu em 2002, devido ao câncer no pulmão. E Lorenzo morreu em 30 de maio de 2008, um dia após seu 30° aniversário.

Casos de ALD no Brasil

No Brasil também existem casos de adrenoleucodistrofia e podem ser encontrados em diversas regiões: três pessoas com ALD no norte, uma pessoa na região centro-oeste, quatro no sudeste e uma pessoa na região sul.